Tchaikovsky

“O quebra-nozes”, suíte

por Adriano Brandão

Papai Noel, presentes, pinheirinho enfeitado… Tudo isso é muito comum no Natal, mas sabe o que é mais ainda? Especial do Roberto Carlos? Sim! Mas tem outra coisa também: apresentações do balé “O quebra-nozes”, de Tchaikovsky. A ponto de ser difícil imaginar música mais natalina que “O quebra-nozes” – à parte, é claro, “Noite feliz” e os açucarados standards americanos tocados nos shoppings.

Tchaikovsky é um compositor difícil de se lidar. Um criador inventivo, melodista incomparável, dono de uma ciência musical muito superior aos seus colegas russos. Mas, ao mesmo tempo, uma pessoa complicada, vulgar, de expressão muitas vezes superficial e – pior – excessivamente auto-indulgente.

Se obras como “Capricho italiano”, a Abertura “1822” e o Concerto para piano no. 1 resvalam no barulhento e no mau gosto, peças de maior fôlego como suas três últimas sinfonias escancaram suas angústias pessoais de um jeito quase constrangedor para nós, ouvintes. Creio mesmo que sua música mais equilibrada é a que produziu para o teatro, em especial para o balé – um gênero considerado “menor” que deve muito de sua reabilitação a Tchaikovsky.

Sim, porque se o gênero começou com compositores do porte de um Lully, de um Rameau, no século 19 estava relegado a artesãos especializados como Minkus, Drigo e Delibes. Quando um nome “sério” como Tchaikovsky entrou na área, choveram criticas. Mas as portas estavam abertas. Depois dele chegaram Stravinsky, Debussy, Ravel, Prokofiev, Satie… Os tempos dos “compositores de balé” haviam terminado.

“O quebra-nozes” é o último balé de Tchaikovsky, de 1892. Foi sua segunda colaboração com o coreógrafo Marius Petipas, logo em seguida a “A bela adormecida”. O argumento, de Petipas, é baseado em E.T.A. Hoffmann, e conta uma história bem simples: na véspera de Natal, a pequena Clara ganha, de um tio misterioso, um quebra-nozes de madeira, no formato de um homenzinho. À meia-noite, quando todos dormem, o quebra-nozes se transforma em um príncipe que, após vencer um exército de ratos que invade a casa, leva Clara a um mundo fantástico, a Terra dos Doces, onde são coroados rei e rainha, e assistem a um desfile de guloseimas de vários países e a um grande baile das flores. Ela pega no sono. Quando acorda, está novamente em casa. Teria sonhado tudo? E essa coroa de Rainha da Terra dos Doces que estava de seu lado quando acordou? Ó dúvida ;-)

O balé foi recebido friamente, mas a música de Tchaikovsky chamou a atenção. (“O quebra-nozes” se transformaria em hit natalino muito tempo depois, principalmente nos países anglófonos.) Tanto que Tchaikovsky logo a transpôs para a sala de concertos, compondo duas suítes – a primeira, que ficou imensamente célebre, apresentando as danças “étnicas”; a segunda, totalmente esquecida, resumindo a ação.

A primeira suíte começa com uma “Abertura miniatura” que revela o gosto de Tchaikovsky pela música rococó do século 18. Em seguida, seis danças de diversas origens, como Rússia, Arábia, China etc. O finale é a celebérrima “Valsa das flores”. A música flui de maneira fabolusamente fácil e é difícil não ficar encantado com as cores e as melodias de Tchaikovsky.

Assim Tchaikovsky manda muito bem – sem grandes dramas, sem choro, sem berro; só graciosidade, criatividade e leveza de espirito. E é o que esta Ilha deseja a todos: um fim-de-ano especialmente leve e feliz! Boas festas!

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 25/12/2012. Link permanente.