Dvorák

“Lendas”

por Adriano Brandão

Dinheiro. Blockbusters. Imitações. Continuações. Mais dinheiro.

Não, não estamos falando de Hollywood! Mas de um contexto bem típico da segunda metade do século 19: o comércio de partituras para piano a quatro mãos.

Hoje nos parece esquisito. Basta três cliques na internet para ouvirmos a música que quisermos, de qualquer tipo – desde peças para violoncelo solo até grandes oratórios com portentosas formações orquestrais e corais. Mas nessa época, a única oportunidade de se ouvir com mais frequência, por exemplo, a Quarta de Brahms era tocando uma transcrição da sinfonia para piano (em geral a quatro mãos).

O enriquecimento da burguesia tornou o piano um item relativamente comum nas residências urbanas europeias. Todos aprendiam a tocá-lo, bem ou mal. E o que essa gente toda ávida por música precisa? De partituras, de preferência de música mais leve, fácil de tocar. E isso fez florescer toda uma indústria.

Um dos maiores sucessos editoriais da época foram as “Danças húngaras” de Brahms. Essas peças, quase todas baseadas em música já existente, deixaram Brahms e seu editor, Fritz Simrock, ricos. Em busca de um segundo hit, Simrock encomendou música similar a um protegido de Brahms, o tcheco Antonín Dvorák. Deu certo! As “Danças eslavas” – desta vez todas originais – venderam tanto que geraram um segundo grupo de “Danças eslavas” (seriam as “Danças eslavas II: a missão”?).

Não parou por aí! Alguns anos depois, Simrock e Dvorák voltariam com as “Lendas”, um grupo de dez peças curtas para piano a quatro mãos. Só que desta vez não seriam danças: as “Lendas” são peças características, ligadas ao folclore e à atmosfera da Boêmia natal de Dvorák. E que música maravilhosa! Dvorák acertou tanto a mão que orquestrou as “Lendas” em seguida – a versão orquestral tornou-se inclusive mais famosa.

As “Lendas” estão entre as obras mais belas de Dvorák, de uma pureza e simplicidade de concepção realmente comoventes. Que harmonias! Putz, amo essa música. Que ela tenha ajudado Dvorák a faturar algum dinheiro, ótimo. Mais que justo!

Abaixo, a versão original, para piano a quatro mãos:

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Abaixo, a “Lenda” de número 4, em sua versão orquestral:

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 06/09/2012. Link permanente.