por Adriano Brandão
Antes do piano, havia o cravo. Pelo menos foi assim que aconteceu em termos de repertório. Mas em termos de construção de instrumentos não foi desse jeito: cravo e piano pertencem a linhagens mecânicas diferentes. Ambos têm teclados, mas o cravo soa ao “beliscar” suas cordas, enquanto o piano soa ao martelá-las. E o piano que conhecemos hoje não surgiu de uma só vez: antes dele, houve o “pianoforte”, um instrumento de quatro oitavas e som bem mais apagado. Beethoven mesmo compôs para pianofortes de cinco ou seis oitavas. Se ele visse um Steinway moderno de sete oitavas…
De qualquer maneira, o piano tomou o lugar psicológico reservado ao cravo. Isso aconteceu com o desenvolvimento do instrumento, no final do século 18. As carreiras de Mozart e Haydn aconteceram exatamente nessa época de transição. Em Mozart esse momento passa um pouco batido, dada a predileção do compositor pelo pianoforte. Mas em Haydn essa confusão fica bem clara: suas obras podem ser executadas tanto ao piano como ao cravo – e às vezes até mesmo ao órgão. Melhor dizer que são “para teclado” e pronto…
Entre essas peças estão concertos. Haydn é famoso principalmente por suas sinfonias, quartetos de cordas e oratórios, mas também compôs concertos. Para teclado, são doze – um deles não recebeu numeração, outro tem autoria duvidosa e um terceiro é na verdade um concerto duplo para violino e teclado. De todos esses, apenas o décimo-primeiro, de 1783, permanece sendo ouvido com regularidade. E é uma obra admirável!
Não tem muito o que comentar aqui: o primeiro movimento é em estilo galante (note que o solista participa durante a introdução orquestral, atuando como baixo contínuo, algo comum para a época); o segundo movimento é um belíssimo andamento lento; mas gosto especialmente do finale, um rondó à húngara absolutamente delicioso (com aquelas harmonias e ritmos totalmente viciantes). Você escuta, escuta, escuta… e quer escutar ainda mais! Haydn é assim. Ô cara FODA!
Abaixo, uma execução ao cravo:
Outra ao pianoforte:
E mais uma, agora num piano moderno de concerto. Ouça todas!
Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 07/03/2013. Link permanente.