Schubert

Fantasia para piano a quatro mãos, em fá menor

por Adriano Brandão

Bem-vindos a 1828.

1828? Sim! Hoje continua (ou começa?) a nossa série dedicada ao último ano de vida de Franz Schubert – uma época complicada para ele, mas que nos gerou obras-primas como nenhuma outra. Virou lenda.

Na semana passada comentamos sobre a Sinfonia no. 9, a “Grande”, que por muito tempo imaginava-se que era do último ano de Schubert. Não, foi composta um pouco antes. Hoje vamos falar de uma obra criada em janeiro de 1828: a Fantasia em fá menor para piano a quatro mãos.

Como já disse uma vez aqui nesta Ilha, a prática de piano a quatro mãos era comum no século 19. Mais mãos, mais “orquestral” e rica – harmonicamente, contrapontisticamente – fica a música. Além disso, é uma atividade lúdica, divertida, para os intérpretes. Schubert era conhecido por participar de saraus em que grandes grupos faziam música e brincavam juntos – as “schubertíadas”. Por isso a relativamente grande quantidade de música para piano a quatro mãos que compôs.

Não só por isso! Tocar piano a dois é algo que exige certa intimidade. É sentar bem juntinho, coloca mão pra lá, joga mão pra cá, um monte de esbarrões… E Schubert dava aulas para uma moça, a condessa Karoline Esterházy, por quem estava apaixonado. Compôs a Fantasia pensando nela. Dedicou a peça a ela. Hmmmmmm. ;-)

Segundas intenções à parte, o fato é que a Fantasia é uma obra impressionante. Vejam o título – “fantasia” – indicando uma peça de forma mais livre. Mas calma lá. Ela é dividida em quatro movimentos, exatamente como uma sonata, tocados sem interrupção e compartilhando temas. (Esquema bem parecido com o da Fantasia “Wanderer”, obra anterior para piano solo.) É diferente, mas alguns anos depois nenhum compositor teria medo de chamar peça assim de “sonata” – Liszt que o diga!

A Fantasia começa com um tema absolutamente memorável, que ressurgirá no finale, tanto recapitulado literalmente quanto servindo de base para uma imensa fuga. Após a fuga, um final inesperado – sombrio, meio estranho, simplesmente fantástico.

Desnecessário dizer que esta Fantasia, publicada postumamente, suscitou grande e duradoura admiração. Segue conquistando o coração dos ouvintes e músicos. E Schubert, que teria só alguns meses de vida, faria mais, muito mais. Curta a Fantasia e… semana que vem nossa saga continua :)

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Post escrito por Adriano Brandão em 12/11/2012. Link permanente.