Schubert

Octeto

por Adriano Brandão

Pensamos sempre na música de câmara como um veículo hiper inimista e intelectualizado, apropriado para emoções profundas e estruturas complexas. OK, muitas vezes isso é verdade: os quartetos de Beethoven, Brahms e Bartók, os quintetos de Mozart, o sexteto de Schoenberg. Mas é só um lado da história. Se lembrarmos que o fonógrafo foi inventado somente no final do século 19, constatamos imediatamente que música de câmara foi, por bastante tempo, um substituto acessível para a música orquestral. Por isso, há sim, muita música de câmara de “circunstância”, mais leve.

As serenatas de Mozart são um bom exemplo – música leve e divertida, para “encher ambientes” (OK, muito mais que isso no caso de Mozart POR MOTIVOS DE MOZART). Os primeiros românticos continuaram a tradição, embora evitassem o nome “serenata” – o termo foi resgatado um tanto depois. Beethoven, por exemplo, escreveu ainda jovem uma obra que ficou imensamente popular na sua época, o Septeto em mi bemol maior (para violino, viola, violoncelo, contrabaixo, clarinete, fagote e trompa; praticamente uma mini-orquestra!). Característica básica, herdada das serenatas: muitos, muitos movimentos. No caso de Beethoven, seis. Em geral, é uma sonata com um scherzo extra e um tema-e-variações leve bem no meio.

O Septeto de Beethoven fez muito sucesso, que estimulou outros compositores a criarem música parecida. Um deles foi Schubert. Isso era natural – afinal, Schubert não era o cara das “schubertíadas”, os grandes festerês musicais que agitavam seu círculo de amigos em Viena? Quando o clarinetista Ferdinand Troyer procurou Schubert e o encomendou algo no estilo da obra de Beethoven, era sucesso garantido. O resultado foi o divertidíssimo Octeto em fá maior, de 1824. Na minha opinião, é obra ainda mais legal que o Septeto.

O modelo beethoveniano, ainda ligado às serenatas clássicas, está todo ali, intacto: seis movimentos. O quarto, central, segue um tema-e-variações: e quantas obras de câmara de Schubert não têm um conjunto de variações? No Octeto, por conta de seu espirito leve, Schubert escolheu como tema base uma ária de seu singspiel “Os amigos de Salamanca”, uma comédia. O modelo de um minueto e um scherzo foi seguido. E, finalmente, Schubert também coloca introduções lentas (e um bocado dramáticas) nos movimentos externos (o primeiro e o último), dando um peso sinfônico à obra.

Acho essas introduções incríveis, principalmente a do movimento final, que é quase sombria. A música que lhe vem em seguida é tão leve e saltitante que o contraste é super divertido. A obra é repleta de música variada, todos os instrumentistas têm solos e chances de brilhar, os temas são bonitos e estimulantes – receita infalível de sucesso. Quer um desafio? Nem presta muito atenção no player abaixo: clica logo na setilha e começa a ouvir. Quando terminar, duvido que você tenha percebido que UMA HORA se passou. É, é rápido mesmo ;-)

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 15/04/2014. Link permanente.