Schumann

“Kreisleriana”

por Adriano Brandão

Robert Schumann, o grande compositor romântico alemão, passou a juventude dividido entre a literatura e a música, até que se decidiu pelo piano. Mas sempre tentou unir suas duas paixões.

Foi no piano que Schumann escreveu sua melhor música. Profundamente ligadas ao romantismo literário e às aspirações de sua época, são para o piano obras-primas como “Carnaval”, as Peças de fantasia, os Estudos sinfônicos, a Fantasia em dó maior e aquela que eu considero a maior criação de Schumann: a “Kreisleriana”, um conjunto de oito peças características.

E é justamente a “Kreisleriana” que ganha hoje o SELO DE EXCELÊNCIA DO GRANDE CARVALHO. Viva! \o/O nome vem de Johannes Kreisler, personagem do escritor alemão E.T.A. Hoffmann, talvez o romântico quintessencial. Kreisler é modelado por Hoffmann como um compositor antissocial, hipersensível, de comportamento imprevisível – praticamente o arquétipo do artista do século 19. (Brahms, quando jovem, se identificou tanto com o personagem xará que chegou a assinar suas primeiras obras como “Kreisler Junior”.)

Schumann mesmo, muito no estilo da época, tinha não-somente um pseudônimo, mas três: “Eusebius”, o Schumann sonhador; “Florestan”, o Schumann impetuoso; e “Mestre Raro”, uma espécie de super ego. Os três povoaram por muitos anos toda a produção schumanniana: escritos, artigos e principalmente sua música – “Carnaval” que o diga!

Nesta “Kreisleriana”, Schumann substitui o diálogo entre Eusebius e Florestan pelo comportamento cambiante de Kreisler. São oito peças semi-independentes, ao estilo de uma suíte, cada uma delas com partes internas bastante contrastantes. A obra começa animada, em “modo Florestan”, mas muito rapidamente torna-se reflexiva; é em “modo Eusebius” que a maior parte da obra se desenvolve.

A “Kreisleriana” é um poço de inovação: rítmica, melódica, harmônica. Os motivos, geralmente de desenho irregular, soam como se fossem música folclórica de outro planeta; de quando em quando surgem passagem mais “terrestres”, voluptuosas, líricas. O efeito é inigualável. Certamente pouquíssimos compositores foram tão originais quanto o Schumann das obras para piano.

Entre as alternâncias de humor, dezenas de momento ARREPIO. Penso particularmente no sexto movimento, dos trechos mais emocionantes de toda a literatura pianística. O final é saltitante mas profundamente enigmático, por vezes dramático. É bonito demais, é instigante demais, é moderno demais… e é de 1838!

ESCUTA AÍ! A gravação abaixo, eletrizante, é de Martha Argerich, a nossa querida Martita.

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Post escrito por Adriano Brandão em 13/12/2012. Link permanente.