Stravinsky

“Agon”

por Adriano Brandão

12/12/12, 12:12.

It’s twelve tone time! \o/

Certamente todos vocês já ouviram falar do sistema dodecafônico serial, ou “técnica dos doze tons”. Ele foi inventado pelo austríaco Arnold Schoenberg por volta de 1921 (o termo que o próprio Schoenberg usou foi “descoberto”) e trata-se de uma maneira de se evitar conscientemente a tonalidade.

Hmm. Muito técnico. Vou tentar explicar – a superficialidade e meu próprio desconhecimento podem matar a exatidão, perdoem-me. Mas vamos lá: tom é, grosso modo, uma nota ou acorde fundamental que domina uma peça ou trecho musical. Uma música em dó maior, por exemplo, é dominada por esse acorde – provavelmente começa com ele e termina nele, gera tensão quando se afasta dele e tende ao “conforto”, ao “repouso”, quando a ele retorna.

OK, ainda é bastante abstrato. Mas vale dizer que toda a música ocidental composta desde o barroco (i.e., século 17) até o início do século 20 é tonal. A música popular é tonal. Nossos ouvidos estão incrivelmente habituados com a tonalidade. É a nossa língua materna musical.

MAS… as experiências românticas com cromatismo – i.e., a constante mudança de tom – demonstraram o quanto alargar um pouquinho a noção de tonalidade poderia agregar à música em termos de cor e expressão. Era um mundo novo e fascinante. Depois de Wagner e Liszt, vieram Mahler, Strauss e os impressionistas franceses (Debussy e Ravel) para explodir de vez nossos ouvidos. Já não dava para voltar atrás.

Quando Schoenberg sistematizou esse “atonalismo científico”, ele só estava caminhando nessa evolução pessoal que havia começado num cromatismo exacerbado (“Noite transfigurada”) e caído num atonalismo livre, desordenado (“Pierrô lunar”). A técnica que ele bolou consistia em construir suas obras a partir de sequências de doze notas predeterminadas. Nenhuma nota poderia ser repetida antes das outras da série serem tocadas. Assim evita-se que um som domine a música.

O sistema schoenberguiano, que o próprio criador testou em obras de feitura “clássica” como concertos, quartetos de cordas e óperas, estabeleceu-se fortemente, em especial após a Segunda Guerra. Seu caráter científico, abstrato, caiu como uma luva para artistas que desejavam se desassociar de qualquer manifestação mais de massa, “totalitária”, que cheirasse fascismo ou socialismo.

E o público? Sinceramente… nunca se comoveu muito. Se os próprios compositores em geral não estavam muito preocupados com acessibilidade e comunicabilidade, porque os ouvintes deveriam se preocupar com o que eles escreviam? Mas, de qualquer maneira, o dodecafonismo serial foi uma força motriz da música pós-1950 e um milestone histórico bastante importante, que todos devemos conhecer.

E eu? Ah, eu não sou tão fã assim de música serial. O complexo estilo schoenberguiano, levado às raias do pontilhismo por autores como Webern, não fazem a minha cabeça. Mas tenho uma idiossincrasia: gosto muito, muito mesmo, do que Igor Stravinsky empreendeu nos moldes seriais (após a morte de Schoenberg). Vai entender! Acho mesmo que é música difícil mas repleta de “viço” e que tenta, sim, fazer uma conexão mais forte com o ouvinte.

Como exemplo de serialismo vigoroso e atraente, eis a minha obra favorita de Stravinsky nesse estilo: o balé “Agon”, de 1957, para doze bailarinos. DOZE, sacaram? ;-) Não há história, mas uma série de quadros abstratos, de clima variado. A orquestra é grande mas super transparente, com uso proeminente de instrumentos como bandolim, piano, harpa e percussão.

É uma delícia! Não consigo pensar em obra mais bacana para comemorarmos 12/12/12. OUÇAM! :)

[A gravação abaixo, absolutamente fenomenal, é de Robert Craft, secretário particular de Stravinsky por quase toda a sua vivência nos EUA, e provavelmente a maior autoridade viva no compositor.]

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=NFSZvnm1Hdo ” playlist=”lVsvjzcEruw”]

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Post escrito por Adriano Brandão em 12/12/2012. Link permanente.