Schumann

Quinteto para piano

por Adriano Brandão

Já comentei aqui, quando falei de obras de Shostakovich e Dvorák, que tenho especial carinho por um gênero: quintetos para piano e cordas. Talvez porque seja uma união entre o mundo arquitetônico do quarteto de cordas e o lirismo da música para piano.

Embora Mozart e Beethoven tenham composto quartetos para piano anteriormente, o quinteto para piano, nesse formato, só se consolidou graças a uma obra: o Quinteto para piano de Robert Schumann, de 1842. Depois de Schumann vieram Brahms, Franck, Elgar, Martinu e um monte de outros compositores – a forma tornou-se clássica.

Schumann foi, por toda a juventude, um autor primordialmente de música para piano. Já comentamos duas de suas obras-primas pianísticas – “Carnaval” e “Kreisleriana” – e acho mesmo que é o Schumann do piano que permanece mais fortemente hoje em dia. Mas, assim que se casou com Clara Wieck, Schumann se sentiu mais à vontade para começar a abordar diversos gêneros, em surtos criativos muito curiosos.

Em 1840 resolveu compor canções: praticamente só fez isso, e foi muitíssimo feliz. Em 1841 foi a vez da orquestra: compôs o Concerto para piano, as Sinfonias de números 1 e 4, e várias outras peças sinfônicas, com resultados até hoje meio polêmicos. Em 1842, enfim, a música de câmara. Iniciou com três quartetos de cordas muito belos mas meio esquisitos, que não conseguiram entrar no repertório. O desconforto com o meio foi tão grande que Schumann resolveu a partir daí só fazer música de câmara que incluísse o seu velho conhecido piano – e daí nasceu este Quinteto.

Acertou em cheio! O Quinteto é das obras mais felizes do repertório camerístico do século 19, o que é um BAITA DE UM ELOGIO (uma época que teve Beethoven, Schubert e Brahms!). Em termos formais ou expressivos, nele simplesmente não há o que retocar.

A peça começa vibrante e memorável, com um tema que vale guardar na memória – ele volta no finalzinho ;-) O segundo movimento é o mais famoso: uma marcha fúnebre de sóbria beleza (o cinema saberia fazer-lhe bom uso), cuja escuridão é quebrada por uma bem-vinda seção mais agitada. Em seguida, um lindo e contrastante scherzo, de todo leveza e felicidade, com dois (!) trios de arrepiar os cabelos. (Schumann gostava de colocar duas seções moderadas no meio de seus scherzos.)

O finale é especialmente interessante: uma espécie de moto perpétuo de intensa atividade contrapontística. Na última das várias fugas, o tema principal do primeiro movimento retorna para se fundir ao tema do finale e dar ao Quinteto a prova definitiva de sua maravilhosa unidade.

Robert, queridão, você acertou na mosca! ;-)

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 12/03/2013. Link permanente.