Stravinsky

Concerto “Dumbarton Oaks”

por Adriano Brandão

Sabe o que é concerto grosso? Seria um concerto um tanto mais espesso que o normal? #tumdumtssss

Claro que não :)  É um gênero barroco, das primeiras formas puramente orquestrais que surgiram. Ele é “grosso” porque esse é o italiano para “grande” – um concerto grande, portanto, de maior fôlego e ambição. A diferença entre um concerto grosso e um concerto comum é que nele não há um solista, mas um grupo de instrumentos principais. A sonoridade é mais cheia, quase sinfônica.

De fato, a função do concerto grosso passou a ser cumprida mais plenamente pela sinfonia, gênero que nasceu em meados do século 18. De lá pra cá, o gênero desapareceu. Quer dizer, não. Clássicos e românticos passaram muito bem sem o concerto grosso mas ele foi resgatado pelos neoclássicos do século 20. Foi chuva de concerto grosso para tudo quanto é lado: Martinu, Vaughan Williams, Bloch, mais tarde Schnittke… e, claro, Stravinsky.

O objetivo dos neoclássicos era escrever obras orquestrais que fossem a antítese da sinfonia romântica, levada ao máximo do grandioso e do dramático por compositores como Franck, Bruckner e Mahler. Antirromânticos, os compositores do século 20 queriam objetividade, transparência e economia de meios. Musicalmente, isso se refletia em orquestras pequenas, ênfase no contraponto e naquela securinha mecânica que destrói qualquer traço de sentimentalidade. Que outro gênero seria mais apropriado para tais objetivos? Concerto grosso FTW! o/

Pois bem. Se Bach tem Brandenburgo, Stravinsky tem Dumbarton Oaks. Dumbarton Oaks é uma mansão em Washington, EUA, datada do século 19. Foi moradia de políticos e teve sua era de ouro quando foi comprada pelo diplomata Robert Bliss (depois foi doada para a Universidade de Harvard). A propriedade ficou famosa por abrigar uma série de reuniões que culminaram na criação das Nações Unidas, em 1944.

Antes disso, em 1937, Bliss, para comemorar seus 30 anos de casamento, encomendou a peça para Stravinsky. (Olha, isso que é um presente humilde. “Amor, comprei uma lembrancinha para as nossas bodas de pérola: um concerto novinho de Stravinsky!”) O concerto foi estreado na mansão de Dumbarton Oaks e recebeu o nome da propriedade. Simpático!

É uma obra tipicamente neoclássica, dentro do espírito e da forma do concerto grosso barroco – mas com dissonância. Tem uns 15 minutos e é divertido até não poder mais. Começa com todo o gás, numa explosão de vozes independentes (um baita desafio para as orquestras). No meio da zoeira, um motivo que terá papel crucial no clímax do primeiro movimento: um pastiche justamente do Concerto de Brandenburgo no. 3 de Bach. Quando ouvi pela primeira vez, soltei um “rá” de satisfação. :-D

Por falar em satisfação: pra mim a parte mais incrível do “Dumbarton Oaks” é mesmo o finalzinho, quando a música vai ficando mais e mais intensa até o acorde final. É de arrepiar os pelos do dedão do pé!

Se o Stravinsky neoclássico às vezes chega a pontos extremos de dureza e monotonia (tipo o Concerto em ré, o balé “Apolo” ou a Sinfonia em dó maior), isso não acontece neste concerto. Aqui há viço e leveza de espírito. E muita inteligência. A música de Stravinsky transborda de inteligência!

Então não bobeia: clica ;-)

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Post escrito por Adriano Brandão em 10/01/2013. Link permanente.