Widor

Sinfonia para órgão no. 5

por Adriano Brandão

Você já deve ter ouvido falar que o órgão é o rei dos instrumentos e que sua variedade de timbres é comparável à de uma orquestra sinfônica miniaturizada. Esse é um conceito relativamente recente. Foi somente na segunda metade do século 19 que conscientemente tentou-se obter um som orquestral do órgão. Se for possível dar um pai para essa ideia, ele é Aristide Cavaillé-Coll, construtor de instrumentos francês, que inventou mecanismos pneumáticos e formatos de tubos e pistões que deram colorido novo ao órgão e multiplicaram-lhe as possibilidades timbrísticas.

Cavaillé-Coll construiu o órgão da igreja de Santa Clotilde, em Paris, cujo organista era César Franck. Franck ficou maravilhado. Outra das primeiras igrejas que receberam os novos órgãos de Cavaillé-Coll foi a igreja de São Sulpício. O titular em São Sulpício era o jovem Charles-Marie Widor, que foi inspirado pelo seu novo instrumento a compor… sinfonias! Como assim?

Sim, sinfonias para órgão solo! As primeiras quatro surgiram de uma só vez, em 1872. Apesar das sonoridades cheias, predominantemente homofônicas, essas quatro primeiras peças não são muito sinfônicas na forma – os movimentos são bastante desconectados entre si. Foi a partir da Quinta Sinfonia, de 1879, que Widor aos poucos chega a um estilo mais consolidado de sinfonia para órgão solo. E é essa justamente sua obra mais popular.

Quem está procurando a grandiosidade e o esplendor típicos da música organística vai estranhar muito essa sinfonia. (Talvez a Sexta Sinfonia lhe apeteça mais.) A Quinta tem cinco movimentos, sendo os quatro primeiros de feição bem contemplativa. O primeiro é um tema-com-variações (com um episódio intermediário independente), que raramente torna-se mais agitado. O segundo é praticamente uma canção. O terceiro é o que acho mais interessante, um andantino semi-estático, com uma seção no meio muito original e comovente. O quarto é o movimento lento em si, muito bonito.

A obra conclui, de modo contrastante, do modo mais exterior e brilhante possível: uma famosíssima tocata, com seus arpejos repetidos sobre um baixo constante, combinação que dá uma sensação de movimento perpétuo. Esse trecho foi massacrado de todas as maneiras: como música de casamento, de cerimônias religiosas, do que você quiser. E eclipsou totalmente o restante da sinfonia, que, sim, é bem interessante e vale conhecer como um todo.

Ah, o estilo de Widor? Próximo ao de Saint-Saëns, de quem foi assistente por muitos anos, mas também influenciado por Liszt – quem nunca? – e pela música alemã para órgão. Se não é exatamente marcante, soa bastante único e até mesmo intrigante em muitos pontos.

É música bem escrita e representa um momento importante da música romântica, principalmente a francesa. O estilo francês de órgão sinfônico perdurou até meados dos anos 1950, com Duruflé, último representante dessa escola que começou em Franck e Widor e continuou com Dupré, Vierne e Tournemire, entre outros. Hoje é um gosto “de conhecedor”, mas se estar num nicho é ser hipster… que sejamos hipsters por alguns instantes! :)

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Post escrito por Adriano Brandão em 15/02/2013. Link permanente.