Beethoven

Sinfonia no. 5

por Adriano Brandão

Segunda-feira! É dia de voltar ao trabalho, de comentar a rodada do futebol, de colocar a vida em dia… e de série aqui na Ilha Quadrada!

Hoje é uma segunda especial: uma nova série está começando. E seu título é o máximo da concisão – tem apenas uma letra, “V”. “V”? Sim! E acho que não preciso explicar: entendedores entenderão ;-)

Começamos com aquela que é a Sinfonia no. 5 mais célebre de todas – a Quinta de Beethoven, composta em 1808. Provavelmente todos os seres deste planeta conhecem o motivo inicial da sinfonia – quatro notinhas, três curtas repetidas e uma longa para arrematar. TCHAN TCHAN TCHAN TCHAAAAAAAAAN!

Pois é! Se Beethoven praticamente inaugurou o romantismo com sua Terceira Sinfonia, a “Eroica”, definindo os parâmetros emocionais de duração, expressão, drama e conflito que seriam obrigatórios em toda a produção sinfônica do século 19, é na Quinta que Beethoven define a forma da sinfonia romântica. Temas recorrentes, movimentos tocados sem interrupção, evolução tonal do tom menor para o tom maior, finale redentor… o básico da sinfonia oitocentista está todo aí.

A obra começa com o tema famoso, tão pequeno e tão significativo – toda uma tensão, todo um conflito resumido em quatro notas! E Beethoven vai fazer gato e sapato desse micromotivo. Óbvio que o objetivo de toda a obra é resolver o conflito encerrado nessa minúscula mas potente declaração inicial. “Beethoven TEM que solucionar isso”, é o que cada um de nós pensa ao ouvir os quatro tchans.

Beethoven VAI resolver tudo, claro. Mas tem lá o seu timing. Não é no primeiro movimento. A luta é intensa, o drama é magnífico, mas ainda não chegamos aonde queríamos – será que o misterioso solo de oboé pertinho do final indica isso?

O segundo movimento é uma espécie de duplo tema-e-variações. Seu tom é de certo alívio pós-batalha. O primeiro tema, de feição lírica, é anunciado pelas cordas graves. Logo após surge um segundo tema, baseado no primeiro, mas de espírito mais heroico que lírico. A sensação que temos – reforçada pelo final absolutamente brilhante e positivo – é que ainda há esperança, precisamos seguir em frente.

Pois o scherzo retoma essa luta. Um trecho bem sombrio inicia o movimento, mas vejam (ouçam!) quem volta logo em seguida: o tema inicial da sinfonia, meio transformado pelo ânimo injetado pelo movimento lento. E, de repente, após um momento de suspense… o finale, trazendo toda a luz a qual a sinfonia almejou o tempo todo. Viva! \o/

Depois de tanta tensão, finalmente uma longa e positiva vitória. É de lavar a alma, e Beethoven não se cansa de comemorar: são 29 compassos consecutivos cheinhos de acordes de dó maior tocados a todo o vapor! Essa luta toda valeu a pena, não é?

A Quinta de Beethoven, com seu subtexto de conflito-e-vitória e sua magnífica engenharia de motivos interligados, é o próprio modelo da sinfonia do século 19. Quantos não haveriam de tê-la como inspiração? Schubert, Berlioz, Mendelssohn, Liszt, Schumann, Brahms…

Esses e outros românticos também escreveriam suas quintas. Mas esse é papo para os próximos capítulos ;-)

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 25/02/2013. Link permanente.