Prokofiev

Sonata para piano no. 7

por Adriano Brandão

Dos grandes compositores russos do século 20, Shostakovich é o mais plenamente soviético e Stravinsky, o mais ligado ao antigo regime imperial. Sergei Prokofiev fica no meio da estrada. Nascido entre os dois, experimentou um pouco da trajetória de ambos.

Menino prodígio, logo cedo foi passar um tempo em Paris colaborando com os Balés Russos de Diaghlev – como Stravinsky. Depois da Revolução de 1917, emigrou definitivamente, pulando de país em país – também como Stravinsky. Nas vésperas da Segunda Guerra, decidiu voltar à Rússia, agora União Soviética, onde foi censurado como “formalista” pelo regime stalinista – exatamente como Shostakovich. Morreu no exato dia da morte de Stálin e seu enterro teve de ser adiado…

Essa vida complicada pode ser percebida na evolução do estilo de Prokofiev. Suas primeiras obras são propositadamente modernas, muitas vezes politonais e repletas de dissonâncias. Os balés que compôs para Diaghlev o enquadrariam facilmente na vanguarda dos anos 10 e 20, com gosto peculiar para o grotesco e o “primitivo”.

Porém, com o retorno à União Soviética, o estilo de Prokofiev suavizou. Talvez tenham sido as pressões oficiais, talvez o amadurecimento tenha tornado o compositor mais tranquilo… Enfim, as obras de Prokofiev dos anos 30 e 40 são mais ligadas ao século 19 – o grandioso e o dramático, antes totalmente encobertos pela ironia e pelo sarcasmo, agora tornavam-se elementos importantes de sua música. Engraçado como, no catálogo de Prokofiev, convivem obras tão diferentes quanto a “Suíte cita” e o balé “Romeu e Julieta”!

Acho que, na fase soviética, as obras mais interessantes de Prokofiev são mesmo as três sonatas para piano que compôs entre 1939 e 1944, de números 6, 7 e 8. Pelas circunstâncias históricas de sua criação, ficaram conhecidas como as “Sonatas de guerra”. Estão entre as mais incríveis peças para piano do século 20, e a minha favorita é mesmo a do meio, a sétima.

Ela é estruturada nos três movimentos usuais, cada um mais breve que o anterior. O tema principal do primeiro movimento é anguloso e irregular, assimétrico, um dos grandes exemplos do que eu chamo de “melodia abstrata“. Esse clima inquieto é dissolvido um pouco por uma razoavelmente longa seção meditativa, melancólica, que termina em um clímax dramático e agitado.

O andamento lento é, talvez, o mais impressionante. Ele é carregado por um tema meio de marcha, saudosista e triste, de beleza schubertiana. Segue a ele uma breve e rapidíssima tocata, de ritmo mecânico em “estilo boogie-woogie“. É sensacional… e acaba de repente. No final, a sensação é de desconforto – como se a sonata vestisse um casaco apertado demais para poder se mexer bem.

Será que era assim que Prokofiev se sentia na União Soviética?

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Post escrito por Adriano Brandão em 11/03/2014. Link permanente.