Bach

Concerto italiano

por Adriano Brandão

Aprendamos com mestre Bach e vamos compactar!

O que é um concerto? Já falamos isso aqui: é uma obra para solista e orquestra. Mas, diachos, o que Bach quis com este Concerto italiano, BWV. 971, que é para cravo solo? Compactar, queridões, Bach quis compactar!

Bach era incrível nisso – compactador muito mais eficiente que o RAR! Suas suítes para violoncelo, ou suas partitas para violino são impressionantes por serem contrapontísticas mesmo em instrumentos monofônicos, que só conseguem soar uma única nota simultaneamente (OK, há exceções). Ele sabia criar a ILUSÃO de contraponto no ouvinte, graças à manipulação hábil da linha melódica e dos registros do instrumento. É endoidecedor.

Este Concerto italiano é para cravo, um instrumento naturalmente polifônico. Mas o bach.rar aqui é de outra natureza: o objetivo era emular um concerto para solista (violino?) e orquestra apenas no teclado. Hmm, legal, e FUNCIONA! O truque usado foi fazer o cravo soar delicado para representar o “solista”, e massivo, cheio de acordes, para representar a orquestra.

Presta lá atenção. A obra começa com um tutti – super acordões a todo vapor. Exposição passada, o cravo passa a desenvolver uma linha melódica ornamentada, graciosa, com acompanhamento simples – eis aqui representados o solista e sua obediente orquestra! Conforme a música vai ficando mais densa, as duas maneiras de se tocar o cravo começam a dialogar, a compartilhar os temas, a tornar o conjunto mais complexo… mas a distinção entre “solista” e “orquestra” virtuais está sempre presente, clara como água.

O movimento lento é outro exemplo supremo dessa dinâmica. Ele começa já num modo “orquestra” diferente, o do acompanhamento suave. O modo “solista” entra um pouco depois, num registro mais agudo e com uma linha melódica mais contínua. É lindo demais, e é uma ária, típico momento de relaxamento dos concertos barrocos ita…

… sim! Isso explica o nome da obra, claro :) Bach propositadamente repete o modelo concertante praticado na Itália. Quantos e quantos concertos de Vivaldi que Bach não estudou, transcreveu, arranjou? Este é o seu concerto “italiano” original, assim como também compôs suítes perfeitamente “francesas” ou cantatas em tudo “alemãs”.

Bach compactou não só o concerto mas também o mundo inteiro!

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 19/03/2014. Link permanente.