Beethoven

Sinfonia no. 9, “Coral”

por Adriano Brandão

Quando eu era criança, criou-se em casa um hábito curioso: ouvir aos domingos a Nona Sinfonia de Beethoven. Em parte causada pela escassez de CDs em casa – isso foi no final dos anos 80, tínhamos menos de dez discos -, a mania foi mantida por algum tempo. Até hoje, muuuuuitos anos depois, ainda associo um pouco o domingo à Nona de Beethoven. Aproveitarei a oportunidade ;-)

A Nona é tão célebre que é até difícil fazer algum comentário que não seja redundante. Além dos fatos inéditos de incorporar um enorme finale coral a uma sinfonia e de trazer uma claríssima mensagem política e humanista (representada pela “Ode à alegria” de Schiller) a um gênero a princípio bastante abstrato, Beethoven opera nesta obra diversas outras revoluções.

A primeira está na própria sonoridade orquestral. É muito fácil perceber o quanto a Nona soa diferente das demais sinfonias beethovenianas. Isso se explica pela própria posição cronológica da obra, composta em 1824, próxima dos últimos quartetos e da “Missa solene”. É música da derradeira fase criativa de Beethoven – nos dizeres do próprio compositor, feita para o futuro, não para o presente.

A segunda está na criação de um modelo de introdução lenta misteriosa. Compare com as introduções lentas clássicas de Haydn ou do próprio Beethoven (Primeira, Segunda, Quarta e Sétima Sinfonias). A da Nona é totalmente diferente: curta, quase direta ao assunto, ela já traz os principais motivos do movimento, em sua forma definitiva, mas ainda envolvidos em uma espécie de “névoa” de incerteza. A impressão que isso causou foi imensa. Não é difícil lembrar compositores que amplamente se utilizaram desse recurso, de Bruckner a Sibelius.

A terceira e, talvez mais importante, está no recurso de citar os temas dos três movimentos anteriores no finale. Esse recitativo, que antecede a parte coral propriamente dita, é genial ao criar a antítese “isso é o que é” (movimentos anteriores) e “isso é o que queremos que seja” (finale coral, a “Ode à alegria”) apenas citando motivos já ouvidos e os rejeitando veementemente. Também não é difícil citar dezenas de autores que usaram e abusaram do recurso cíclico (Liszt, Bruckner, Dvorák e Franck entre eles).

Tudo isso, mais as enormes potência, beleza e profundidade da música, fazem da Nona Sinfonia de Beethoven uma das obras de arte mais importantes e influentes de todos os tempos. AUDIÇÃO OBRIGATÓRIA não só pra quem se interessa por música clássica, mas para TODOS OS SERES HUMANOS. Grato. :)

[O vídeo abaixo, ESPETACULAR, traz a Nona regida por Leonard Bernstein em Viena. Não preciso falar mais nada. Cada chance de ver Lenny reger é preciosa!]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 16/09/2012. Link permanente.