por Adriano Brandão
Apesar de hoje em dia Robert Schumann ser julgado geralmente como um “conservador”, classicista de linha mendelssohniana, essa é uma meia-verdade. Se prestarmos atenção em suas obras para piano, por exemplo, veremos que Schumann mantinha conscientemente uma boa distância da forma clássica.
Evidência número 1: seu fabuloso Concerto para piano nasceu como uma “fantasia” em um só movimento (foi completado somente anos depois). Evidência número 2: a abordagem concertante de Schumann é muito diferente da de seus contemporâneos. Se compararmos esse concerto com os similares de Field, Hummel ou mesmo Chopin, fica muito óbvio que Schumann era o mais inovador de todos!
A primeira coisa que chama a atenção: o piano é soberano, sim, mas nem de longe “dissolve” a orquestra como em Chopin. O tratamento aqui é muito mais próximo do mozartiano, com diálogos quase camerísticos entre solista e orquestra. É simples entender, só na audição, o que isso significa. Perceba que, em vários momentos, as frases melódicas são compartilhadas – uma parte é dita pela pelo piano, outra pela orquestra, num esquema que vai muito além do “pano de fundo” romântico usual.
Curiosamente, ao mesmo tempo em que ganha espaço como “carregador” do discurso, a orquestra cede vários espaços para o piano. Não há mais a longa exposição orquestral, como em Chopin – o piano participa desde o começo (na “explosão” que abre a obra, e também assumindo o motivo principal do primeiro movimento logo em seguida à sua exposição pelas madeiras). Além disso, Schumann recupera o hábito da cadenza, tornada obviamente desnecessária nos concertos muito dominados pelo solista do início do romantismo.
O primeiro movimento segue gigantesco – sua duração equivale à soma dos outros dois – e reina na obra, fornecendo os temas que serão fundamentais para dar a ela forte unidade. O ponto em que isso fica mais evidente é na transição entre o andamento lento (na verdade, um intermezzo moderado) e o final. As duas partes devem ser tocadas sem interrupção e a mudança de movimento é cuidadosamente preparada com o retorno do tema inicial da obra. O efeito é incrível, super coerente… e vale lembrar que Schumann compôs o concerto em duas épocas distintas, separadas entre si por quatro longos anos!
O concerto de Schumann é mais que um marco importante na evolução do gênero concertante – é uma obra-prima absoluta, DO GRANDE CARVALHO, pedra fundamental da música do século 19. E influenciou um bocado… principalmente a obra que iremos comentar na semana que vem. É um parzinho bem óbvio, aliás :) Palpites? Comente abaixo!
Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 10/03/2014. Link permanente.